Mulheres no agronegócio: desafios e conquistas em um setor estratégico

Brasília, 13 de março de 2025.

Março é um mês de reflexão e celebração da trajetória feminina em diversas áreas, e no campo da Engenharia e do Agronegócio não poderia ser diferente. Apesar de representarem mais da metade da população brasileira, as mulheres ainda são minoria em setores historicamente masculinos. No Sistema Confea/Crea, por exemplo, elas correspondem a apenas 20% dos mais de 1,1 milhão de profissionais cadastrados. 

No agronegócio, essa presença também cresce, mas ainda enfrenta desafios. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que as mulheres administram cerca de 30 milhões de hectares dedicados à produção agropecuária, o que equivale a aproximadamente 8,5% da área total ocupada por sítios e fazendas no Brasil. O Censo Agropecuário do IBGE, publicado em 2017, apontou que 947 mil mulheres estão à frente da gestão de propriedades rurais no país, com a maior concentração (57%) localizada na região Nordeste.

Nesta matéria, vamos conhecer a rotina de Ligia Pedrini, uma das expoentes dessa geração, que está transformando a Engenharia e o Agronegócio, rompendo barreiras e consolidando seu espaço em um dos setores mais estratégicos para o desenvolvimento do país.
 

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Engenheira agrônoma Lígia Pedrini


Lígia Pedrini é engenheira agrônoma formada pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT – Campus Cuiabá). Durante sua trajetória profissional, realizou estágio e trabalhou em fazendas de produção de algodão, soja, milho e multiplicação de sementes de soja. Posteriormente, atuou como consultora em uma revenda de insumos. Após esse período, ingressou em uma multinacional como assistente técnica, onde permaneceu por alguns anos. Durante a pandemia, iniciou o processo de sucessão familiar, assumindo toda a parte técnica e operacional das fazendas da família. Nesse período, também passou a produzir conteúdo para as redes sociais, consolidando-se como comunicadora do agro.

Primeira safra como agricultora: aprendizados e superação

A primeira safra como agricultora foi a de 22/23, e toda a rotina foi compartilhada com seus mais de 95 mil seguidores. Segundo Lígia, a experiência foi como uma verdadeira montanha-russa de emoções, repleta de aprendizados. Embora estivesse familiarizada com os processos, pela primeira vez a responsabilidade estava inteiramente em suas mãos, pois era ela quem tomava as decisões. A diferença entre conhecer a rotina e ser responsável por ela ficou evidente, especialmente pelo impacto que suas escolhas poderiam ter não apenas sobre si mesma, mas sobre toda a família e o legado construído ao longo dos anos. 

O medo de errar esteve presente, mas, ao mesmo tempo, compreendi que os erros fazem parte do processo de aprendizado. No final da safra, a sensação de dever cumprido foi gratificante, e os desafios enfrentados se transformaram em valiosas lições para o futuro.


Em relação às mudanças climáticas, Lígia destaca que esse é o único fator sobre o qual não há controle. "Na nossa profissão, é preciso tirar o melhor do que o clima oferece", explica. Segundo ela, dentro da produção, escolhem-se variedades mais resistentes, ajustam-se os calendários de aplicações e realizam-se adaptações ao longo do ciclo da cultura.
"Além disso, outras operações, especialmente financeiras e organizacionais, nos resguardam e nos ajudam a passar por essas oscilações. Proteger o capital e investir em outras operações nos garantem mais estabilidade", afirma.
 

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Lígia Pedrini na plantação


Segundo Lígia Pedrini, um dos maiores desafios enfrentados pelas mulheres na Agronomia está relacionado aos conceitos pré-estabelecidos sobre o trabalho feminino no setor e à forma como as pessoas as enxergam. "Romper essas barreiras dentro de mim foi o primeiro grande desafio. Mas, depois disso, me senti preparada para enfrentar todo o resto", afirma. No que diz respeito ao posicionamento de carreira, a maior dificuldade foi encontrar seu espaço no mundo do agro e entender como poderia se destacar profissionalmente, transmitindo conhecimento e informações com credibilidade, sem deixar de ser autêntica, feminina e fiel à sua identidade.

A força da mulher no agronegócio

Sobre o crescimento da participação feminina no setor, Pedrini acredita que as mulheres possuem características intrínsecas, como cuidado, atenção aos detalhes, comunicação eficiente e paciência ao ensinar. Esses atributos, segundo ela, não apenas abrem portas no agronegócio, mas também enriquecem e fortalecem o setor como um todo.
O caminho para a equidade de gênero na Engenharia e na Agronomia ainda apresenta desafios, mas histórias como a de Lígia Pedrini demonstram que as mulheres estão cada vez mais conquistando espaço e redefinindo o setor. Com resiliência, competência e inovação, elas não apenas superam barreiras, mas também trazem novas perspectivas que fortalecem o agronegócio brasileiro.

À medida que mais mulheres assumem posições de liderança e protagonismo, o setor se torna mais diverso, eficiente e preparado para os desafios do futuro. Que essa trajetória inspire outras profissionais a acreditarem em seu potencial e seguirem firmes na construção de um agronegócio mais inclusivo e próspero.


Fernanda Pimentel
Equipe de Comunicação do Confea
Fotos: Agência J.A. AgroMarketing Digital